Mentiram para você: empresa não é família!
A confusão entre as regras sociais e profissionais pode normalizar o excesso de trabalho, a falta de limites e os maus tratos.
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Embora passemos ⅓ de nossas vidas no ambiente de trabalho e participemos de diversas interações profissionais com colaboradores e líderes, empresa não é família. E quanto mais cedo entendermos isso mais fácil será de barrar vínculos tóxicos.
É comum que, ao tomarmos a corporação para a qual prestamos serviços como uma grande família, sejamos compelidos a aceitar mais do que devemos e a prestar um auxílio que não nos compete. Afinal, você negaria ajuda a sua mãe, pai ou irmão?
Hoje vamos desmistificar o ideal de empresa-família e te mostrar porque você deveria colocar fronteiras entre o seu ambiente profissional e pessoal.
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Afinal, por que empresa não é família?
Em Previsivelmente irracional, Dan Ariely distingue dois mundos e suas regras, um com as normas sociais e o outro com as normas de Mercado.
No primeiro, encontramos as relações que não fazemos por dinheiro como: as interações familiares e afetivas. Já no outro, encontramos as interações financeiras como: compras, empregos e prestação de serviços. O problema se dá quando misturamos esses dois mundos.
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Quando aplicamos as regras sociais em nossa profissão tendemos a levar o trabalho como um favor e não como uma atividade remunerada. Dessa forma, assim como ajudaríamos nossos amigos a fazerem uma mudança de graça, estamos propensos a realizar mais do que nossa obrigação profissional como se isso fosse um favor.
E por que tendemos à colaboração gratuita? É do ser humano ser útil a uma causa. Afinal, a colaboração incita o sentimento de bem estar. Não é de se espantar que quando fazemos parte de atividades voluntárias em que ninguém é remunerado por isso nos sentimos bem.
O ponto é que quando estamos trabalhando para uma empresa não estamos fazendo uma caridade. Mas, ainda assim, existem muitas instituições que visam incitar em seus funcionários o sentimento de trabalho para um propósito maior. Em outras palavras, uma norma social é aplicada em um ambiente de Mercado.
Aliás, muitas empresas aproveitam o storytelling para contar as suas histórias de criação em vias de captar a emoção dos colaboradores. Desse modo, conquistam suas lealdades a ponto de conseguirem ser perdoadas pelas suas falhas e terem muitos funcionários trabalhando fora do horário de expediente com jornadas de trabalho exaustivas sem remunerá-los por isso.
Por isso, é importante entender que empresa não é família. Aliás, por trás do mito da empresa-família se escondem muitos perigos que precisam ser alertados. Confira alguns deles!
1. Ausência de limites
Quando tomamos uma empresa por família, muitas vezes, esquecemos as fronteiras que limitam as normas de Mercado. Dessa maneira, é comum realizarmos mais funções do que as que constam em nossa carteira de trabalho, trabalhar mais horas do que devemos e, por vezes, permitirmo-nos sermos maltratados.
Aliás, para quem veio de uma família em que as figuras do pai e/ou da mãe eram autoritárias, é muito comum que sejam subservientes a chefes autoritários. O que pode ser muito perigoso dentro de uma relação profissional.
Isso porque a possibilidade de sofrerem violências simbólicas e físicas é muito grande. Sem contar que tais colaboradores estarão mais propensos a um esgotamento emocional.
2. Confusão entre vínculo emocional e vínculo profissional
Quando as normas sociais entram dentro do espaço profissional, é comum a confusão emocional do colaborador. Isso porque, se empresa é família, quem poderia negar ajuda aos seus familiares? Além disso, surge o peso de que os colaboradores precisam não só respeitar, mas amar os seus chefes e colegas de trabalho. E isso equivale a aceitá-los, independentemente de seus erros e excessos.
Concorre ainda para a conturbação emocional o sentimento de obrigação de partilha da vida íntima e convívio para além do ambiente de trabalho. Mas, até que ponto isso é saudável e inofensivo?
Afinal, já temos um histórico de notícias de exposições vexatórias da vida de funcionários devido a vínculos nocivos entre colaboradores que extrapolaram as fronteiras do profissional.
3. Lealdade tóxica
O excesso de lealdade a uma empresa ou a uma corporação pode gerar uma corrupção do senso ético dos trabalhadores quando expostos a situações imorais. Dessa forma, uma vez unidos pelo juramento de serem leais a ‘empresa-família’ correm o risco de acobertarem todas as falhas e atitudes ilegais da empresa.
Nesse sentido, a lealdade tóxica é tamanha que as condutas de proteção de líderes ou de um colega de trabalho serão as mesmas que aquelas praticadas com seus entes e amigos. Isso a tal ponto de cobrirem até mesmo atitudes abusivas, trapaceiras e moralmente injustas.
E você, conte aqui nos comentários, também acha que empresa não é família? Deixe a sua contribuição e continue navegando pelas postagens do nosso site.